sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

NEW LAMP "CASACA DE COURO"


Foto: Flávio Sampaio

A CRIAÇÃO SE ANINHA NA NATUREZA


O artista plástico argentino, Roberto Romero, traz inspiração do ninho do pássaro Casaca de Couro para sua nova luminária de arame

Criar é alçar voo. Na escultura onde o arame é matéria-prima o artista plástico argentino Roberto Romero flutua numa atmosfera carregada de sensibilidade para dar vida a objetos tridimensionais que flexibilizam leveza e poesia. Desta vez, a inspiração aterrissa no cariri paraibano e na paisagem árida da região encontra abrigo no ninho do pássaro Casaca de Couro para colher a forma de uma nova luminária com sua inconfundível assinatura. Em meio a vegetação da caatinga – dominada por cactos, bromélias e árvores de galhos retorcidos – o olhar perspicaz do escultor se detém no hipotético desalinho da arquitetura natural alicerçada em traços milimetricamente calculados, guiados pelo instinto de proteção e sobrevivência da ave.

Topetudo e de plumagem terracota, o Casaca de Couro também chamado de Carrega-madeira-do-sertão faz sua morada a partir do suposto caos: utiliza madeiras diversas, gravetos, espinhos, plumas e uma infinidade de material que aporta segurança e conforto ao lar. Um hábito descrito na música de Rui de Morais, cantada pelo Rei do Ritmo, Jackson do Pandeiro: “Em riba do pé de turco/ Tem um ninho de graveto/ Tem garrancho de jurema/ Tem pau branco, tem pau preto/ Tem lenha que dá pra facho/ Tem vara que dá pra espeto”.  

A arte do escultor impõe um dueto com o pássaro que é hábil construtor. Em lugar da madeira, arame. Aos olhos do espectador, a desordem das linhas entrecruzadas da obra vazada. Na natureza, o ninho em forma de forno (medem externamente cerca de um metro) é teto para as intempéries; na arte, morada simbólica para reflexões que transcendem espaços e acolhem identidade, regionalidade e laços de pertencimento. “Ao me deparar com o ninho durante uma recente expedição pelo cariri me deixei tomar pela surpresa do aparente caos. Há na estrutura uma subjetiva desarmonia, uma ruptura com a estética. E isso está contido na luminária, na fusão das linhas que enganam o olhar, que hipnotizam e abrem frestas para deixar a imaginação fluir”, explicita Romero.  

Como nas esculturas anteriores, o arame estrutura a Luminária Ninho em contornos precisos resultantes da destreza do artista com os alicates e a espacialidade. Um desenho encerrado em linhas essenciais, sem excessos e limites para adentrar na narrativa contida no emaranhado de fios metálicos – que tal qual o ninho do Casaca de Couro – tem uma ordem presumida para uma estética contemporânea e acolhedora.  

Sobre Roberto Romero:  Argentino de Buenos Aires, 42 anos, Roberto Romero é licenciado em Letras pela Universidade de Paris X – Nanterre. Artista plástico autodidata, elabora esculturas com arame e tem nas suas criações uma assinatura peculiar. Suas obras são escritas subentendidas nas linhas livres do fio metálico cuja essência primitiva e rude exalta a leveza. Os desenhos vazados se esgotam em contornos e abrem um universo poético e reflexivo aos olhos de quem os observa.

A aura reflexiva que paira sobre as esculturas revela recortes da própria história de vida do artista. Cosmopolita, Romero sorveu referências multiculturais e compôs um repertório de imagens colhidas pelos países onde viveu, visitou, estudou e trabalhou. Suas passagens pelo Líbano, França, Colômbia e Uruguai mapearam matérias-primas, aguçaram o interesse pela reutilização de objetos antigos e técnicas artesanais. Memórias sempre frescas para mesclar às novas pesquisas e inspirações que agora habitam o Brasil desde que estabeleceu morada no país em 2012, no estado da Paraíba.

Raquel Medeiros 
Jornalista e editora do site Nas Entrelinhas
(83) 9915 0628
http://www.nasentrelinhas.com.br/