Foto: Flávio Sampaio
A CRIAÇÃO SE ANINHA NA NATUREZA
O artista plástico argentino, Roberto Romero, traz
inspiração do ninho do pássaro Casaca de Couro para sua nova luminária de arame
Criar é alçar voo. Na escultura onde o arame é
matéria-prima o artista plástico argentino Roberto Romero flutua numa atmosfera
carregada de sensibilidade para dar vida a objetos tridimensionais que
flexibilizam leveza e poesia. Desta vez, a inspiração aterrissa no cariri
paraibano e na paisagem árida da região encontra abrigo no ninho do pássaro
Casaca de Couro para colher a forma de uma nova luminária com sua inconfundível
assinatura. Em meio a vegetação da caatinga – dominada por cactos, bromélias e
árvores de galhos retorcidos – o olhar perspicaz do escultor se detém no
hipotético desalinho da arquitetura natural alicerçada em traços
milimetricamente calculados, guiados pelo instinto de proteção e sobrevivência
da ave.
Topetudo e de plumagem terracota, o Casaca de Couro
também chamado de Carrega-madeira-do-sertão faz sua morada a partir do suposto
caos: utiliza madeiras diversas, gravetos, espinhos, plumas e uma infinidade de
material que aporta segurança e conforto ao lar. Um hábito descrito na música
de Rui de Morais, cantada pelo Rei do Ritmo,
Jackson do Pandeiro: “Em riba do pé de turco/ Tem um ninho de graveto/
Tem garrancho de jurema/ Tem pau branco, tem pau preto/ Tem lenha que dá pra
facho/ Tem vara que dá pra espeto”.
A arte do escultor impõe um dueto com o pássaro que
é hábil construtor. Em lugar da madeira, arame. Aos olhos do espectador, a
desordem das linhas entrecruzadas da obra vazada. Na natureza, o ninho em forma
de forno (medem externamente cerca de um metro) é teto para as intempéries; na
arte, morada simbólica para reflexões que transcendem espaços e acolhem identidade,
regionalidade e laços de pertencimento. “Ao me deparar com o ninho durante uma
recente expedição pelo cariri me deixei tomar pela surpresa do aparente caos.
Há na estrutura uma subjetiva desarmonia, uma ruptura com a estética. E isso
está contido na luminária, na fusão das linhas que enganam o olhar, que
hipnotizam e abrem frestas para deixar a imaginação fluir”, explicita Romero.
Como nas esculturas anteriores, o arame estrutura a
Luminária Ninho em contornos precisos resultantes da destreza do artista com os
alicates e a espacialidade. Um desenho encerrado em linhas essenciais, sem
excessos e limites para adentrar na narrativa contida no emaranhado de fios
metálicos – que tal qual o ninho do Casaca de Couro – tem uma ordem presumida
para uma estética contemporânea e acolhedora.
Sobre Roberto Romero: Argentino de Buenos
Aires, 42 anos, Roberto Romero é licenciado em Letras pela Universidade de
Paris X – Nanterre. Artista plástico autodidata, elabora esculturas com arame e
tem nas suas criações uma assinatura peculiar. Suas obras são escritas
subentendidas nas linhas livres do fio metálico cuja essência primitiva e rude
exalta a leveza. Os desenhos vazados se esgotam em contornos e abrem um
universo poético e reflexivo aos olhos de quem os observa.
A aura reflexiva que paira sobre as esculturas revela
recortes da própria história de vida do artista. Cosmopolita, Romero sorveu
referências multiculturais e compôs um repertório de imagens colhidas pelos
países onde viveu, visitou, estudou e trabalhou. Suas passagens pelo Líbano,
França, Colômbia e Uruguai mapearam matérias-primas, aguçaram o interesse pela
reutilização de objetos antigos e técnicas artesanais. Memórias sempre frescas
para mesclar às novas pesquisas e inspirações que agora habitam o Brasil desde
que estabeleceu morada no país em 2012, no estado da Paraíba.
Raquel Medeiros
Jornalista e editora do site Nas Entrelinhas
(83) 9915 0628
http://www.nasentrelinhas.com.br/
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